sábado, 22 de novembro de 2025

O Retorno a Howard´s End

O Retorno a Howard´s End
O Retorno a Howard´s End é mais um excelente drama de costumes dirigido por James Ivory, o mais britânico dos diretores americanos. Com elenco de primeira o filme retrata o complicado relacionamento de duas irmãs (Emma Thompson e Helena Bonham Carte) com um rico burguês da classe alta, interpretado pelo sempre ótimo Anthony Hopkins. No centro de tudo surge Howard´s End, uma casa tradicional familiar, disputada por todos. O interessante em "O Retorno a Howard´s End" é que apesar de Anthony Hopkins ser creditado como o ator principal - aparecendo em primeiro lugar nos créditos - seu papel não é em definitivo o central. Na realidade a principal personagem é interpretada por Emma Thompson em um papel complicado (uma solteirona que não tem papas na língua, falando pelos cotovelos que se casa com um rico dono de empresa). Em torno dela vários personagens curiosos desfilam: uma irmã também solteirona que não sabe muito bem o que quer da vida, um irmão tímido, de pouca presença e um pouco afeminado e um casal que ela mal consegue saber de quem se trata mas que será importante no desfecho da trama. Seu trabalho lhe valeu o merecido Oscar de Melhor atriz daquele ano.

Eu considero Howard´s End um bom filme da safra de James Ivory mas não o melhor. Ele fica bem abaixo de "Vestígios do Dia", esse sim uma obra prima. De qualquer forma a elegância da produção, o bom gosto dos figurinos, a excelente reconstituição de época (quem gosta de veículos antigos vai certamente apreciar os modelos que aparecem em cena) e a boa atuação dos atores mantém o filme em um excelente patamar de qualidade. O filme inclusive venceu na categoria de melhor direção de arte. O roteiro não tem a fluidez de "Vestígios do Dia" mas credito isso muito mais ao próprio livro em que foi inspirado (que por si só é bem minucioso, detalhista, com várias sub-tramas em seus capítulos). Trazer toda a riqueza da obra de E.M. Forster para as telas certamente não é uma tarefa das mais simples. O esforço do roteirista veio na premiação de melhor roteiro adaptado, um prêmio que em minha opinião não foi muito justo. De quialquer forma a produção em um contexto geral é realmente excelente, particularmente indicada para quem quer assistir uma elegante crônica sobre costumes ingleses no começo do século passado. Sutileza, charme e elegância não irão faltar, certamente.

O Retorno a Howard´s End (Howards End, Japão / Inglaterra, 1992) Direção: James Ivory / Roteiro: Ruth Prawer Jhabvala / Elenco: Anthony Hopkins, Emma Thompson, Vanessa Redgrave, Helena Bonham Carter, Joseph Bennett, Prunella Scales, Adrian Ross Magenty. / Sinopse: o filme retrata o complicado relacionamento de duas irmãs (Emma Thompson e Helena Bonham Carte) com um rico burguês da classe alta, interpretado pelo sempre ótimo Anthony Hopkins. No centro de tudo surge Howard´s End, uma casa de campo tradicional e familiar, almejada por todos.

Pablo Aluísio.

sábado, 15 de novembro de 2025

Cinquenta Tons de Liberdade

Cinquenta Tons de Liberdade
Esse terceiro filme é bem mais inócuo do que todos os anteriores. O casal formado pelo milionário Christian Grey e por Anastasia Steele acaba se aproximando cada vez mais de se tornar um casal de rotina, comum, como tantos outros que encontramos por aí. O casamento é o grande atrativo dessa terceira sequência. Agora casados de papel passado, eles precisam enfrentar um criminoso, Jack Hyde, que os culpa pela destruição de sua vida. Ele perdeu o emprego, foi parar na cadeia, mas não desiste de se vingar. O curioso é que acaba se descobrindo que Hyde e Grey possuem um passado em comum, chegando a viverem na mesma família quando eram garotos órfãos. Mesmo com essa ameaça pairando no ar, não espere por cenas emocionantes e nem uma dramaturgia mais forte. No final das contas a presença de Hyde nem faz muita diferença. Ele é apenas uma muleta narrativa para que a estória não fique resumida ao próprio casal, viajando a lugares bonitos do planeta, enquanto curtem a sua lua de mel.

Um aspecto que notei nesse terceiro filme é que a autora E.L. James pareceu ter absorvido as críticas que se fazia no tocante à violência de Grey para com Anastasia. As cenas de masoquismo estão muito atenuadas, quase inexistentes. O tal quarto vermelho, com algemas e chicotes pelas paredes, ainda está lá, mas o casalzinho o usa cada vez menos. Na verdade durante o filme inteiro só há mesmo uma sessão de sexo nessa linha. Depois o quarto acaba sendo usado por ela apenas para afogar suas mágoas, quando dorme no sofá de lá, ao descobrir que seu marido pode estar tendo um caso extraconjugal. Quando o filme termina ficamos com a sensação que o casal vai cair numa rotina daquelas, que destrói vários casamentos. Eles estão no jardim, carregando o filhinho para dentro de casa. Pois é, nesse filme a Anastasia também descobre que está grávida, o que apavora Grey que diz que ainda não está preparado para ser pai. Pelo visto ele não é emocionalmente muito maduro. Um velho clichê de livros românticos ao estilo Sabrina. Então basicamente é isso o que temos. Se faz o seu gênero não deixe de assistir a esse filme que acabou me soando como uma conclusão bem insossa da trilogia.

Cinquenta Tons de Liberdade (Fifty Shades Freed, Estados Unidos, 2018) Direção: James Foley / Roteiro:  Niall Leonard, baseado no romance escrito por E.L. James / Elenco: Dakota Johnson, Jamie Dornan, Eric Johnson / Sinopse: Christian Grey (Jamie Dornan) e Anastasia Steele (Dakota Johnson) finalmente se casam. Para a Lua de Mel eles começam a viajar pelos lugares mais bonitos do planeta como Paris e Aspen. Só que a felicidade completa do casal é perturbada pela presença criminosa de Jack Hyde (Eric Johnson), o ex-patrão de Anastasia que foi demitido de seu emprego após ter problemas com ela. Achando que sua vida acabou, ele decide partir para a vingança, custe o que custar.

Pablo Aluísio.

Filmografia Dakota Johnson


Filmografia Dakota Johnson:
Loucos do Alabama (1999)
A Rede Social (2010)
A Fera (2012)
For Ellen (2012)
Ovelha Negra (2012)
Anjos da Lei (2012)
Cinco Anos de Noivado (2012)
Ben and Kate (2013)
Saindo do Armário (2014)
Need For Speed (2014)
Cymberline (2014)
Cinquenta Tons de Cinza (2015)
Chloe e Theo (2015)
Vale (2015)
Aliança do Crime (2015)
Um Mergulho no Passado (2015)
Como Ser Solteira (2015)
Cinquenta Tons Mais Escuros (2017)
Cinquenta Tons de Liberdade (2018)
Suspíria: A Dança da Morte (2018)
Maus Momentos no Hotel Royale (2018)
Contato Visceral (2019)
O Falcão Manteiga de Amendoim (2019)
The Friend (2019)
The Nowhere Inn (2020)
A Batida Perfeita (2020)
A Filha Perdida (2021)
Cha Cha Real Smooth (2022)
Está Tudo Bem Comigo? (2022)
Persuasão (2022)
Papai (2023)
Madame Teia (2024)
Amores à Parte (2025)
Amores Materialistas (2025)

Pablo Aluísio. 

sábado, 8 de novembro de 2025

A Força do Destino

Título no Brasil: A Força do Destino
Título Original: An Officer and a Gentleman
Ano de Produção: 1982
País: Estados Unidos
Estúdio: Paramount Pictures
Direção: Taylor Hackford
Roteiro: Douglas Day Stewart
Elenco: Richard Gere, Debra Winger, David Keith, Robert Loggia, Louis Gossett Jr

Sinopse:
Zack Mayo (Richard Gere) é um jovem problemático que decide entrar nas forças armadas dos Estados Unidos. Enquanto leva um conturbado romance com sua namorada, Paula (Debra Winger) vai crescendo como homem e soldado, sob o comando do sargento linha dura Emil Foley (Louis Gossett Jr).

Comentários:
Um dos maiores sucessos da carreira de Richard Gere. Na época o filme surpreendeu se tornando um dos mais lucrativos da história (custou meros 3 milhões de dólares e rendeu mais de 130 milhões só no primeiro ano de exibição). A estória envolvendo o romance de um militar e uma garota de muita personalidade caiu nas graças do público que lotou os cinemas. Gere, jovem e bonitão, encarna sem culpa a figura do rapaz rebelde que se alista nas forças armadas americanas e sofre com a dura disciplina da rotina militar. O grande destaque do elenco, premiado inclusive com o Oscar de melhor ator coadjuvante, é o ator Louis Gossett Jr. Ele interpreta o Sargento Emil Foley, um tipo que se tornaria recorrente nos anos seguintes, um sujeito linha dura mas de bom coração que no fundo só deseja que seus subordinados se endireitem na vida.

Além do Oscar de Gossett o filme ainda levou o Oscar de Canção ("Up Where We Belong", um hit em seu lançamento, grande sucesso que sempre tocava na FM embalando os namoros dos jovens apaixonados da época). Visto hoje em dia "A Força do Destino" ainda se mantém interessante. O filme foi acusado por alguns críticos de ser uma mera propaganda de recrutamento do complexo militar americano, mostrando com sua mensagem que apenas as forças armadas conseguem colocar certas pessoas de volta no caminho certo da vida. Acho essa visão injusta. O foco do filme é em cima do romance de Zack Mayo (Richard Gere) e Paula (Debra Winger) e não apenas na mudança de vida do protagonista após entrar na vida militar. Tanto isso é verdade que o filme até hoje é lembrado por seu romantismo e não pelas cenas dentro do quartel. E é justamente por esse lado romântico que resolvi resgatar esse que é certamente um dos mais belos contos de amor que o cinema da década de 80 produziu. Indicado para quem ainda acredita na força do amor, apesar de tudo.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Atração Fatal

Atração Fatal
Dan Gallagher (Michael Douglas) é um homem bem sucedido na profissão e no casamento até que cansado da rotina insuportável da monogamia nupcial resolve ter um caso extraconjugal. A escolhida é uma mulher muito parecida com ele, também bem sucedida e dona de si, a executiva de empresas Alex Forrest (Glenn Close). O problema é que o que deveria ser um caso rápido, sem maiores conseqüências, sai do controle pois ela fica grávida e não aceita mais a rejeição do amante. A partir daí a infidelidade de Dan (Douglas) se torna um verdadeiro inferno pessoal pois sua amante perde o controle, o levando para um confronto definitivo, de proporções gravissimas. “Atração Fatal” foi um grande sucesso de bilheteria e em seu argumento colocava a questão da infidelidade conjugal sob uma perspectiva bem severa, pois a amante mudava completamente de personalidade, de uma mulher atraente e moderna acabava se transformando numa verdadeira insana, psicopata, capaz dos gestos mais absurdos para se vingar do amante que a abandonara.

Na época de seu lançamento muito se falou do moralismo embutido no roteiro que passava a mensagem de que homens infiéis deveriam ser punidos sem perdão. Além disso o filme chegou nos cinemas logo no momento em que a AIDS ganhava cada vez mais espaço nos jornais e noticiários. A nova doença vinha para colocar um ponto final na promiscuidade sem freios dentro da sociedade. Assim muitos ligaram esses eventos ao próprio filme e o classificaram como uma obra moralista e cafona. Não concordo completamente com esse tipo de análise. De fato “Atração Fatal” não passava de um thriller como tantos outros que o cinema americano lançava todos os anos. A falta de noção de Alex (Close) após ser abandonada reforçava ainda mais esse aspecto pois não existem thrillers sem algum psicopata por perto. Coube a ela esse papel. E a ligação com a AIDS era realmente meramente circunstancial. De qualquer modo o filme parece ter resistido bem ao tempo. Seu clima de marketing publicitário (fruto da escola em que o diretor Adrian Lyne se formou) torna a experiência de rever “Atração Fatal” ainda mais interessante. Não é o melhor papel da carreira de Glenn Close (ela é muito mais talentosa do que vemos em cena) mas certamente é um de seus personagens mais populares. Assim fica a recomendação de “Atração Fatal”, interessante filme que inclusive pode ser exibido por esposas levemente desconfiadas aos seus maridos. Quem sabe eles não mudem de idéia antes de “pular a cerca”...

Atração Fatal (Fatal Attraction, Estados Unidos, 1987) Direção: Adrian Lyne / Roteiro: James Dearden / Elenco: Michael Douglas, Glenn Close, Anne Archer, Ellen Hamilton Latzen / Sinopse: Homem bem sucedido (Michael Douglas) na carreira resolve se aventurar num caso extraconjugal o que lhe trará enormes problemas pela frente.

Pablo Aluísio.

sábado, 1 de novembro de 2025

Até os Fortes Vacilam

Título no Brasil: Até os Fortes Vacilam
Título Original: Tall Story
Ano de Produção: 1960
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Joshua Logan
Roteiro: Julius J. Epstein, Howard Lindsay
Elenco: Anthony Perkins, Jane Fonda, Ray Walston, Marc Connelly, Anne Jackson, Murray Hamilton, Robert Redford

Sinopse:
Ray Blent (Anthony Perkins) é um desportista da liga universitária que só tem um desejo em sua vida: se formar e se tornar um bom jogador de basquete. Seus planos mudam quando entra em cena June Ryder (Jane Fonda), também estudante como ele. Esperta e manipuladora, ela acaba se envolvendo numa maneira peculiar de ganhar uma bela bolada de forma rápido e fácil, levando Ray a entrar num esquema de subornos envolvendo manipulação de jogos em casas de apostas. Sua escolha porém trará consequências imprevisíveis para todos os envolvidos.

Comentários:
Um curioso filme dirigido pelo veterano cineasta Joshua Logan que contou em seu elenco com um bom time de atores liderados pela casal Anthony Perkins e Jane Fonda. Curiosamente "Tall Story" foi lançado no mesmo ano do grande filme da carreira de Perkins, o clássico absoluto do mestre do suspense Alfred Hitchcock, "Psicose". Os personagens são até levemente parecidos; claro que o universitário interpretado por Perkins aqui não é um psicopata mas ele surge tão tímido e inseguro como o clássico Norman Bates. Ao contrário do título nacional o Ray Blent de Anthony Perkins não é um forte mas sim um fraco, um sujeito que sucumbe à beleza de uma bonita garota, entrando em um esquema enrolado de corrupção esportiva. Já Jane Fonda está linda em cena, bem jovem e esbanjando carisma. Esse foi seu primeiro filme, arranjado pelo pai, Henry Fonda, que inicialmente não queria que ela seguisse a carreira de atriz mas que depois viu que nada poderia fazer contra sua vontade. Já que não tinha como mudar seu ponto de vista o jeito foi ajudar. Sua estréia é das mais simpáticas, embora o enredo seja levemente bobinho.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Anna Karenina

Anna Karenina
O livro “Anna Karenina” é uma das obras mais famosas do autor Lev Nikolayevich Tolstoi (1828 - 1910). Publicado originalmente em 1875 o romance não é o mais expressivo do escritor (papel que cabe a “Guerra e Paz” de 1865) mas certamente sempre foi um dos preferidos da sétima arte onde já se contam seis adaptações ao longo dos anos (a primeira data de 1935 e a última de 1997). Agora chega às telas brasileiras mais uma versão, dessa vez dirigida pelo excelente cineasta Joe Wright de “Orgulho e Preconceito” e “Desejo e Reparação”, ambos filmes realizados ao lado de sua atriz preferida, a talentosa Keira Knightley, parceria que se repete mais uma vez aqui. O cinema de Wright é elegante, charmoso e muito sofisticado. Ele havia tentando entrar na indústria americana com seus dois filmes anteriores, “O Solista” e “Hanna”, mas agora volta para sua zona de conforto, onde realmente brilha, em adaptações de obras literárias famosas como esse “Anna Karenina”.

O enredo mostra a paixão que uma aristocrata, Anna Karenina (Kiera Knightley), nutre por um oficial da cavalaria, o Conde Vronsky (Aaron Taylor- Johnson). Ele é filho de uma condessa de alta estirpe. O problema é que Karenina é casada com outro homem, o alto funcionário imperial Karenin (Jude Law), que acaba vendo seu bom nome ser envolvido em um verdadeiro escândalo na corte por causa das aventuras extra-conjugais de sua esposa. Numa Rússia Czarista onde a nobreza vivia em luxos exuberantes enquanto a imensa massa da população sobrevivia na mais absoluta miséria, Anna Karenina toca, mesmo que superficialmente, em questões sociais, morais e políticas. A produção abraça esse ambiente de luxo e ostentação e cada cena logo se torna um colírio aos olhos. Essa adaptação não é extremamente fiel (seria muito complicado levar toda a riqueza de detalhes do livro para as telas) mas mantém um bom nível, muito digno. Já como romance e entretenimento funciona muito bem. Para os que desejam conhecer a obra que lhe deu origem mais a fundo fica a sugestão de ler o texto de Tolstoi que certamente é riquíssimo.

Anna Karenina (Anna Karenina, Estados Unidos, 2012) Direção: Joe Wright / Roteiro: Tom Stoppard / Elenco: Keira Knightley, Jude Law, Aaron Taylor-Johnson, Kelly Macdonald, Matthew Macfadyen / Sinopse: O filme narra o amor extraconjugal que a aristocrata Anna Karenina acaba tendo por um oficial da cavalaria. Casada, seu romance logo se torna um escândalo na corte czarista da Rússia imperial. Vencedor do Oscar de Melhor Figurino. Indicado aos Oscars de Melhor Fotografia, Melhor Trilha Sonora Original e Melhor Direção de Arte.

Pablo Aluísio.