A história é baseada em fatos reais e foi escrita em forma de romance pela própria autora Helene Hanff. O título nacional é equivocado. Não há um clima de romantismo ou paixão no ar entre os dois personagens principais. Ao invés disso temos uma amizade entre a escritora, aqui cliente da lojas de livros, e todos os demais empregados da pequena empresa. O nome original do filme (84 Charing Cross Road) traz justamente o endereço da livraria, afinal é um filme à moda antiga, do tempo em que as pessoas ainda se correspondiam através de cartas. Antes de virar filme esse enredo rendeu uma boa peça teatral que ficou alguns anos em cartaz em Nova Iorque e Londres. Sua origem teatral inclusive fica bem óbvia na narrativa que o roteiro imprime. Para um palco se mostra de fato ideal. Ambiente fechado, praticamente apenas dois cenários (Nova Iorque e Londres) e a força do texto declamado. Ideal para ótimos atores, principalmente os que tiveram formação nos palcos da vida.
Só que nesse duelo de interpretações quem acaba vencendo (mesmo utilizando esse termo de forma equivocada) é a americana Anne Bancroft. Sua personagem é mais rica em dramaturgia, tem mais personalidade, além de ser o principal foco de movimentação do enredo. Sempre fumando um cigarro atrás do outro, falando sem parar, com uma fina ironia na ponta da língua, ela acaba ofuscando o bom e velho Hopkins, que tem um personagem mais contido.
Aliás esse choque cultural nascido entre o modo de ser de uma nova-iorquina estressada e o estilo de vida mais pacato, educado e modesto dos ingleses forma a espinha dorsal narrativa do filme. No começo da história os ingleses ainda viviam em um sistema de racionamento muito severo. Assim qualquer presente que a escritora americana mandava - fosse um presunto ou enlatados em geral - acabava sendo comemorados pelos empregados da loja como verdadeiras dádivas. Nada mais comum em um país que ainda estava se recuperando dos escombros da II Guerra Mundial. Enfim, é isso. Uma boa película com o charme do cinema inglês aliado ao estilo mais cru e direto dos filmes americanos. De fato uma bela combinação cinematográfica.
Nunca te Vi, Sempre te Amei (84 Charing Cross Road, Inglaterra, Estados Unidos, 1987) Direção: David Hugh Jones (como David Jones) / Roteiro: James Roose-Evans, baseado no livro de Helene Hanff / Elenco: Anthony Hopkins, Anne Bancroft, Judi Dench, Maurice Denham / Sinopse: A história de amizade entre um vendedor inglês de livros e uma americana, leitora voraz de livros raros.
Pablo Aluísio.
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quinta-feira, 10 de julho de 2025
quinta-feira, 3 de abril de 2025
Vestígios Do Dia

A atração entre o mordomo (Hopkins) e sua governanta (Emma Thompson) é latente mas não assumida abertamente por causa das convenções sociais a que ambos estão submetidos. Além disso Hopkins brilha como uma pessoa que simplesmente não consegue expressar suas emoções. Criado para ser um mordomo a vida inteira e possuir uma educação exemplar ele acaba perdendo a capacidade de se revelar a quem quer que seja, mesmo para a mulher que sente atração e nutre sentimentos românticos. Assim é erguido um muro invisível que não deixa que ambos se declarem um ao outro. Tudo isso é de uma sutileza fenomenal. Apenas um cineasta com a sensibilidade de James Ivory conseguiria transportar isso para a tela no tom certo.
Desnecessário dizer que o resultado é excelente. O roteiro é um primor, a direção e a reconstituição de época são soberbas mas o melhor vem da interpretação dos atores. Esse filme traz a melhor atuação da carreira de Anthony Hopkins, embora isso possa causar surpresa em muitos é a mais pura verdade. Ele faz um mordomo de um Lord inglês que se apaixona por uma empregada da mansão, feita pela Emma Thompson. É um filme de momentos sutis. Existe uma cena maravilhosa em que Hopkins tenta se declarar à sua paixão mas por questões sociais, timidez, nervosismo e até mesmo preconceito se reprime. Poucas vezes vi um momento tão divinamente interpretado no cinema como esse. É genial. Vestígios do Dia é um primor, um filme feito para pessoas sofisticadas e de muito bom gosto. Como não poderia deixar de ser é uma produção britânica do mais alto nível. O diretor Ivory é um dos meus preferidos de todos os tempos. E é por essa e outras razões que considero "Vestígios Do Dia" uma perfeição da sétima arte. Poucas vezes algo assim tão sutil encontrou um veículo tão competente nas telas. Um primor!
Vestigios do Dia (The Remains of the Day, Estados Unidos, Inglaterra, 1993) Direção: James Ivory / Elenco: Christopher Reeve, Anthony Hopkins, Emma Thompson, Caroline Hunt / Sinopse: 1958. James Stevens (Anthony Hopkins), um homem de idade, em um grande carro antigo começa uma viagem pela Inglaterra em direção ao mar. Por muitos anos ele foi o mordomo-chefe de Darlington Hall, uma famosa casa de campo. Neste época sacrificou sua vida pessoal por vários anos para ter um alto desempenho profissional, mesmo reprimindo seus sentimentos e passasse uma frieza que na verdade não era parte da sua personalidade. Ele está indo visitar Sally Kenton (Emma Thompson), que ele não vê há muito tempo e tinha sido governanta em Darlington. Ele pensa que talvez ela possa ser persuadida a retomar a sua antiga posição, trabalhando para o novo proprietário de Darlington, um congressista americano aposentado.
Pablo Aluísio.
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