quinta-feira, 10 de julho de 2025

Nunca te Vi, Sempre te Amei

A história é baseada em fatos reais e foi escrita em forma de romance pela própria autora Helene Hanff. O título nacional é equivocado. Não há um clima de romantismo ou paixão no ar entre os dois personagens principais. Ao invés disso temos uma amizade entre a escritora, aqui cliente da lojas de livros, e todos os demais empregados da pequena empresa. O nome original do filme (84 Charing Cross Road) traz justamente o endereço da livraria, afinal é um filme à moda antiga, do tempo em que as pessoas ainda se correspondiam através de cartas. Antes de virar filme esse enredo rendeu uma boa peça teatral que ficou alguns anos em cartaz em Nova Iorque e Londres. Sua origem teatral inclusive fica bem óbvia na narrativa que o roteiro imprime. Para um palco se mostra de fato ideal. Ambiente fechado, praticamente apenas dois cenários (Nova Iorque e Londres) e a força do texto declamado. Ideal para ótimos atores, principalmente os que tiveram formação nos palcos da vida.

Só que nesse duelo de interpretações quem acaba vencendo (mesmo utilizando esse termo de forma equivocada) é a americana Anne Bancroft. Sua personagem é mais rica em dramaturgia, tem mais personalidade, além de ser o principal foco de movimentação do enredo. Sempre fumando um cigarro atrás do outro, falando sem parar, com uma fina ironia na ponta da língua, ela acaba ofuscando o bom e velho Hopkins, que tem um personagem mais contido.

Aliás esse choque cultural nascido entre o modo de ser de uma nova-iorquina estressada e o estilo de vida mais pacato, educado e modesto dos ingleses forma a espinha dorsal narrativa do filme. No começo da história os ingleses ainda viviam em um sistema de racionamento muito severo. Assim qualquer presente que a escritora americana mandava - fosse um presunto ou  enlatados em geral - acabava sendo comemorados pelos empregados da loja como verdadeiras dádivas. Nada mais comum em um país que ainda estava se recuperando dos escombros da II Guerra Mundial. Enfim, é isso. Uma boa película com o charme do cinema inglês aliado ao estilo mais cru e direto dos filmes americanos. De fato uma bela combinação cinematográfica.

Nunca te Vi, Sempre te Amei (84 Charing Cross Road, Inglaterra, Estados Unidos, 1987) Direção: David Hugh Jones (como David Jones) / Roteiro: James Roose-Evans, baseado no livro de Helene Hanff / Elenco: Anthony Hopkins, Anne Bancroft,  Judi Dench, Maurice Denham / Sinopse: A história de amizade entre um vendedor inglês de livros e uma americana, leitora voraz de livros raros.

Pablo Aluísio.

terça-feira, 8 de julho de 2025

Negócio Arriscado

Esse foi um dos primeiros filmes de sucesso da carreira do ator Tom Cruise. Só que não espere por algo muito especial. Na verdade é uma típica comédia dos anos 80. E isso hoje em dia significa tanto coisas boas, interessantes e nostálgicas, como também meio bobinhas, ultrapassadas pelo passar dos anos. Aqui Tom Cruise (bem jovem) interpreta um adolescente cujos pais decidem viajar. E ele fica sozinho em casa. Pronto, já pensou bem no que isso iria causar? Hoje em dia um roteiro desses, com um personagem jovem que praticamente vira um cafetão usando sua a casa dos pais como bordel iria dar o que falar, mas nos anos 80 tudo isso era visto com grande naturalidade. As comédias juvenis tinham mesmo esse tom de picardia.

Pois é, o personagem de Tom Cruise então transforma a casa em praticamente um bordel, com muitas garotas bonitas à disposição. Ele vê tudo não como uma farra inconsequente, mas sim como uma forma de ganhar dinheiro fácil e rápido, afinal sexo vende bem... e tem muitos consumidores interessados no tal produto. Então é isso. Foi uma bom cartão de visitas da carreira do Tom Cruise. Não foi o filme que iria colocar ele no topo das bilheterias, claro, mas serviu para mostrar aos produtores que aquele jovem ator tinha potencial.

Negócio Arriscado (Risky Business. Estados Unidos, 1983) Direção: Paul Brickman / Roteiro: Paul Brickman / Elenco: Tom Cruise, Rebecca De Mornay, Joe Pantoliano / Sinopse: Jovem garotão fica sozinho em casa quando seus pais viajam e decide que quer ganhar dinheiro rápido e fácil. Como? Enchendo a casa com lindas garotas á disposição.

Pablo Aluísio.

sábado, 5 de julho de 2025

Cry-Baby

Título no Brasil: Cry-Baby
Título Original: Cry-Baby
Ano de Produção: 1990
País: Estados Unidos
Estúdio: Focus
Direção: John Waters
Roteiro: John Waters
Elenco: Johnny Depp, Tracy Lords, Iggy Pop, Willie Dafoe e Amy Locane

Sinopse: 
A cidade é Baltimore, o ano é 1954. Wade "Cry-Baby" Walker (Johnny Depp) é um "Teddy Boy" que lidera um grupo de outsiders. No bairro e na escola tem o sugestivo apelido de "Cry-Baby" justamente por causa de algo bem singular em si mesmo: ele chora apenas por um olho! Embora se faça de durão ele na verdade está apaixonado pela bela Allison Vernon-Williams (Amy Locane), uma garota rica que parece estar fora de seu alcance uma vez que seus parentes o odeiam. Afinal todos pensam que "Cry-Baby" é apenas um delinqüente juvenil sem qualquer futuro pela frente.

Comentários:
Acredito que pouquíssimas pessoas vão lembrar desse filme. A razão é simples: poucas pessoas viram "Cry-Baby" na época de seu lançamento. No comecinho da carreira o jovem Johnny Depp já colocava as asinhas de fora estrelando um filme do cineasta (e maluco de plantão) John Waters. Quem assistiu já sabe, o filme é todo fora do convencional. Tem até a ex estrela pornô Traci Lords, que foi colocada no elenco como provocação mesmo: na época várias pessoas da indústria pornô estavam sendo presas por causa dela (mas isso é uma outra história). Sinceramente não me lembro de ter visto Cry-Baby na TV. Acho inclusive que deve ser inédito até em dvd no Brasil (me corrijam se estiver enganado). É um filme raro e dificil de achar mas recomendo aos fãs do trabalho de Depp pois ele está impagável na pele de um personagem que mistura de uma vez só James Dean, Marlon Brando e Elvis Presley. Ele também canta no filme (e não é que o cara já cantava bem há mais de 20 anos!). Não é de se espantar já que ele mesmo se considera um músico frustrado que virou ator por necessidade. Enfim, para quem gosta do cinema subversivo de Waters, "Cry-Baby" é um prato cheio - de brilhantina é claro!

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 3 de julho de 2025

Espantalho

Título no Brasil: Espantalho
Título Original: Scarecrow
Ano de Lançamento: 1973
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Jerry Schatzberg
Roteiro: Garry Michael White
Elenco: Gene Hackman, Al Pacino, Dorothy Tristan, Ann Wedgeworth, Richard Lynch, Eileen Brennan

Sinopse:
Dois homens, perfeitos estranhos entre si, se conhecem numa estrada poeirenta do meio oeste dos Estados Unidos. São andarilhos, em busca de uma carona que os levem até a cidade mais próxima. No fundo estão mesmo fugindo de seus passados, das decisões erradas que tomaram em relação às suas vidas. 

Comentários:
Gene Hackman e Al Pacino, dois grandes atores, interpretam esses personagens que no fundo são pessoas perdidas na vida. O personagem de Hackman acabou de sair da prisão onde cumpriu pena por seis anos. Ele planeja abrir um car wash quando chegar na cidade de Chicago, mas seus planos parecem ser apenas sonhos, sem realidade concreta. É um homem desesperado, sem rumo, que cria planos nas nuvens. Já Pacino também interpreta um homem que fez as escolhas erradas. Ele abandonou sua esposa e seu filho, um garotinho, e agora quer voltar para casa... só que como era de se esperar, ele não seria mais bem vindo nela. O tema do filme é justamente esse, a das escolhas erradas, dos caminhos sem lugar de chegada, sem rumo e destino certos, do eterno vagar pelas estradas perdidas sem chegar a lugar nenhum. Um dos bons filmes da carreira desses dois grandes nomes do cinema norte-americano. A vida para algumas pessoas é mesmo tentar consertar os erros do passado, só que muitas vezes essas escolhas levam a caminhos sem volta, como no caso dos dois personagens centrais desse filme. Em suma, uma bela crônica sobre o passado e o destino, sem futuro promissor algum pela frente. 

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Cães de Aluguel

Título no Brasil: Cães de Aluguel
Título Original: Reservoir Dogs
Ano de Produção: 1992
País: Estados Unidos
Estúdio: Live Entertainment
Direção: Quentin Tarantino
Roteiro: Quentin Tarantino, Roger Avary
Elenco: Harvey Keitel, Tim Roth, Michael Madsen, Chris Penn, Steve Buscemi, Quentin Tarantino 

Sinopse: 
Seis criminosos se reúnem para colocar em prática um ousado roubo de diamantes. Para se identificarem usam nomes associados a cores, baseadas em seus temperamentos. Os planos porém não saem como eram imaginados. A polícia consegue entrar no meio do caminho. Agora, irascíveis e violentos, eles fazem um policial de refém em um balcão abandonado. O desafortunado tira logo se torna alvo do sadismo incontrolável de Mr. Blonde (Michael Madsen). A tensão assim vai crescendo e se tornando insustentável, caminhando para um desfecho que logo se tornará um grande banho de sangue.

Comentários:
Esse foi o primeiro filme de repercussão da carreira do diretor Quentin Tarantino. Na época ele era apenas um diretor completamente desconhecido que só havia dirigido dois filmes antes (um deles inacabado justamente por falta de recursos). Tarantino achava que tinha um grande roteiro em mãos, e foi à luta em busca de alguém que acreditasse no filme. Acabou encontrando apoio no ator Harvey Keitel que realmente ficou fascinado com o material, com o texto e com os ótimos diálogos (que se tornariam a marca registrada de Quentin Tarantino em toda a sua carreira). Após decidir que faria a produção, Harvey Keitel saiu em busca de financiamento ao lado de Tarantino e conseguiu levantar pouco mais de um milhão de dólares de orçamento (uma mixaria em termos de Hollywood). Na base da amizade convocou os demais atores, todos amigos dele (inclusive os excelentes Tim Roth e Michael Madsen). Assim que foi lançado o filme chamou a atenção da crítica por ser visceral, cru e muito violento. Isso porém não era o principal pois "Cães de Aluguel" também trazia uma linguagem diferenciada, bem distante do que se fazia na época em termos de filmes policiais. Inicialmente no circuito alternativo e depois no mercado comercial a produção foi ganhando cada vez mais admiradores, consolidando o caminho de Quentin Tarantino rumo ao estrelato e ao sucesso, posição que até hoje ocupa. Revisto hoje em dia, mais de vinte anos depois de sua chegada aos cinemas, "Reservoir Dogs" ainda mantém o impacto por ser uma obra muito original e esteticamente inovadora. Sua violência nunca se mostra gratuita mas estilizada, invocativa. Um Tarantino de estirpe.

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 25 de junho de 2025

O Limite da Traição

Título no Brasil: O Limite da Traição
Título Original: Extreme Prejudice
Ano de Produção: 1987
País: Estados Unidos
Estúdio: Carolco, Columbia Pictures
Direção: Walter Hill
Roteiro: John Milius, Fred Rexer
Elenco: Nick Nolte, Powers Boothe, Michael Ironside

Sinopse:
Jack Benteen (Nick Nolte) é um xerife durão de uma cidadezinha do Texas que acaba descobrindo que sua região, antes pacata e pacífica, está agora na rota do tráfico de drogas entre México e Estados Unidos. Para piorar o chefe da quadrilha de traficantes internacionais é um velho conhecido do xerife, desde os tempos em que ambos serviram o exército americano na guerra do Vietnã. Agora estão em lados opostos da lei.

Comentários:
Exemplo de bom policial dos anos 80, cinema macho à prova de falhas. O roteiro é de John Milius, diretor de "Conan, o Bárbaro" e "Amanhecer Violento". A direção foi entregue ao especialista Walter Hill, que dirigiu verdadeiras pedradas do gênero como por exemplo "Inferno Vermelho" e "Ruas de Fogo". Para completar o pacote de testosterona o filme é estrelado por Nick Nolte, com cara de poucos amigos. Com tantos elementos favoráveis o espectador já sabe de antemão que encontrará coisa boa, acima da média dos filmes policiais da época. A produção inclusive pede emprestado vários elementos dos filmes de faroeste, como o ambiente hostil e desértico e a lei da selva, onde apenas o mais forte sobreviverá. A fita fez sucesso, tanto no mercado de VHS como nos cinemas brasileiros onde chegou a ser lançada. Revisto hoje em dia mantém o charme de uma época em que o cinema não tinha vergonha de ser macho até o último fio de cabelo. Se é o que você está procurando não tenha receios de assistir.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Conduzindo Miss Daisy

Quando "Conduzindo Miss Daisy" venceu o Oscar de Melhor Filme muitos ficaram surpresos. O filme era considerado o azarão daquele ano e conseguiu superar todos os favoritos. Produção pequena, mas muito charmosa, "Conduzindo Miss Daisy" mostrava a relação de amizade que se prolongava por muitos anos entre a senhora branca do título e seu chofer negro. O filme é cativante e trata a questão racial com extremo cuidado e bom gosto. O fato de ter vencido o Oscar não deveria ter surpreendido tantos assim. O problema do racismo, principalmente em Estados do Sul dos EUA, jamais foi superado de verdade, ainda é uma chaga aberta naquela sociedade. O roteiro ao mostrar uma amizade verdadeira entre um negro e uma branca tocou fundo novamente no problema, levando a simpatia dos membros da Academia, sempre dispostos a premiar filmes que tenham a coragem de tocar em assuntos polêmicos e relevantes. 

Esse também é um filme de atuações, acima de tudo. O roteiro se apóia quase que inteiramente entre a relação de amizade dos personagens interpretados por Morgan Freeman e Jessica Tandy. Ambos estão muito inspirados em cena, esbanjando talento e carisma. Para Jessica Tandy em particular a produção pode ser considerada uma justiça tardia feita em homenagem à longa carreira da atriz nos palcos e telas. Embora muito respeitada no meio teatral americano Jessica Tandy jamais conseguiu se tornar uma estrela de primeira grandeza no cinema, embora fosse mais talentosa que muitas delas. De certo modo foi uma atriz injustiçada pelo cinema ao longo de sua extensa carreira artística. O Oscar que recebeu por sua interpretação de Miss Daisy foi de certa forma um pedido de desculpas da indústria de cinema americano em relação a ela, por ter sido tão subestimada por tantos anos. Morgan Freeman também foi indicado mas não conseguiu levar o Oscar para casa. Idem Dan Aykroyd, um ator de comédias, que conseguiu pela primeira e única vez uma indicação ao prêmio. "Conduzindo Miss Daisy" acabou sendo indicado a nove prêmios e venceu quatro (Filme, Atriz, Roteiro Adaptado e Maquiagem). Também venceu o Globo de Ouro de Melhor Filme e Melhor Atriz (Jessica Tandy). Com tanto reconhecimento não precisa mais de recomendação. Tudo é extremamente delicado e bem escrito. Mostra acima de tudo que basta um roteiro bem desenvolvido, bem trabalhado para realizar um belo filme, aqui no caso um pequeno belo filme, quase um poema cinematográfico. Merece ser redescoberto.  

Conduzindo Miss Daisy (Driving Miss Daisy, Estados Unidos, 1989) Direção: Bruce Beresford / Roteiro: Alfred Uhry, baseado em sua própria peça teatral / Elenco: Jessica Tandy, Morgan Freeman, Dan Aykroyd, Patti LuPone, Esther Rolle / Sinopse: O filme retrata a longa amizade de uma senhora branca do sul dos EUA, Miss Daisy (Jessica Tandy), e seu chofer negro, Hoke Colburn (Morgan Freeman).  

Pablo Aluísio.